Minha mãe, minha mãe, eu tenho medoTenho medo da vida, minha mãe.Canta a doce cantiga que cantavasQuando eu corria doido ao teu regaçoCom medo dos fantasmas do telhado.Nina o meu sono cheio de inquietudeBatendo de levinho no meu braçoQue estou com muito medo, minha mãe.Repousa a luz amiga dos teus olhosNos meus olhos sem luz e sem repousoDize à dor que me espera eternamentePara ir embora. Expulsa a angústia imensaDo meu ser que não quer e que não podeDá-me um beijo na fonte doloridaQue ela arde de febre, minha mãe.Aninha-me em teu colo como outroraDize-me bem baixo assim: — Filho, não temasDorme em sossego, que tua mãe não dorme.Dorme. Os que de há muito te esperavamCansados já se foram para longe.Perto de ti está tua mãezinhaTeu irmão. que o estudo adormeceuTuas irmãs pisando de levinhoPara não despertar o sono teu.Dorme, meu filho, dorme no meu peitoSonha a felicidade. Velo euMinha mãe, minha mãe, eu tenho medoMe apavora a renúncia. Dize que eu fiqueAfugenta este espaço que me prendeAfugenta o infinito que me chamaQue eu estou com muito medo, minha mãe.
O poema acima foi extraído do livro "Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 186